Abstract: |
O acesso a medicamentos no Brasil pode ser estudado por meio de diferentes
recortes analíticos. Um desses recortes é o gasto das famílias com
medicamentos, cujo peso em relação à renda das famílias brasileiras é
amplamente conhecido. Este estudo tem como objetivo descrever os gastos das
famílias brasileiras com medicamentos e analisar as desigualdades
socioeconômicas expressas nesses gastos. O estudo inova em relação aos
pregressos, uma vez que descreve os gastos segundo categorias de medicamentos
e apresenta uma análise de desigualdades nos gastos incorporando não apenas o
aspecto da renda mas, também, a percepção das condições de vida referidas
pelas famílias. Foram utilizados os microdados das Pesquisas de Orçamentos
Familiares (POFs) realizadas em 2002-2003 e 2008-2009, pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O gasto com medicamentos foi o
principal componente do gasto com saúde das famílias brasileiras. No período
estudado, houve variação positiva de 10% no valor absoluto do gasto com
medicamentos. Segundo a POF 2008-2009, o gasto médio foi R$ 59,02. Cerca de
77% das famílias tiveram registro de gasto com medicamentos durante o período
de referência para coleta de dados, cujo gasto médio foi R$ 76,31. O gasto
familiar per capita médio com medicamentos foi R$ 17,91. Entre as famílias
pertencentes ao primeiro décimo de renda, esse gasto foi R$ 4,47, enquanto
entre as famílias pertencentes ao último décimo foi R$ 58,44. As famílias com
menor renda comprometiam, proporcionalmente, maior parcela da renda familiar
na aquisição de medicamentos do que as famílias com maior renda. Em 2008-2009,
as famílias no último décimo de renda gastaram com medicamentos, em termos
absolutos, treze vezes o valor gasto pelas famílias pertencentes ao primeiro
décimo, apesar das famílias com menor renda gastarem na aquisição desses bens
essenciais, em termos absolutos, muito menos do que aquelas com maior renda.
Ficou evidente que houve um aumento da proporção de famílias que tiveram
gastos com determinadas categorias de medicamentos, principalmente
analgésicos, antigripais, medicamentos para colesterol e problemas do coração.
Por sua vez, houve redução da proporção de famílias que tiveram gastos com
anti-infecciosos e anti-inflamatórios. A alta desigualdade na distribuição de
renda, que ainda prevalece na sociedade brasileira, se manifesta da mesma
forma na alta desigualdade do gasto das famílias com medicamentos. Access to
medicines in Brazil can be studied using different analytical approaches. One
of these approaches is the household spending on medicines, whose weight over
the income of the Brazilian families is widely known. The study aims to
describe the spending on medicines of the Brazilian families and to analyse
socioeconomic inequalities in these expenditures. The study innovates, in
relation to previous studies by describing the expenditures according to
categories of medicines and on providing an analysis of the spending
inequalities that incorporates, not only the aspect of income, but also the
self-perception of living conditions of these families. The microdata used are
from the Family Budget Surveys (POF) conducted in 2002-2003 and 2008-2009 by
the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE). The spending on
medicines, one of the main components of the health expenditures of Brazilian
families, had a positive change of 10% in its absolute value, during the
period studied. According to POF 2008-2009, the average expenditure was R$
59.02. About 77% of the families recorded an average spending of R$ 76.31 on
medicines during the reference period for data collection. The average of per
capita expenditure on medicines was R$ 17.91. Families belonging to the bottom
income decile had spent R$ 4.47, while those belonging to the top decile had
spent R$ 58.44. Families with lower incomes undertook proportionately greater
fraction of their income on purchasing medicines than those with higher
incomes. In 2008-2009, the families in the top decile of income spent on
medicines, in absolute terms, thirteen times the amount spent by those
belonging to the bottom decile, despite the fact that families with lower
income spend much less than those with higher incomes on acquiring these
essential goods. The study showed an increase in the proportion of families
that had expenditure of certain categories of medicines, especially
analgesics, cold medication, and medicines for cholesterol and heart diseases.
In turn, there was a reduction in the proportion of families that had
expenditures on anti-infective and anti-inflammatory agents. The high
inequality in income distribution still prevalent in the Brazilian society has
been manifested, in the same way, in the high inequality of household spending
on medicines. |